quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Metodologia

Ainda estou decidindo qual metodologia usar. Como estou na fase de revisão bibliográfica tenho encontrado referências sobre alguns panfletos e materiais produzidos pelo Sindicato na época da greve e a teses sobre
movimentos sociais formados pelos descendentes dos Queixadas que eram atuantes nos anos 80 e 90 e 2000 em Perus.

Quando começar a visitar as bibliotecas e puder ler estes documentos e teses, saberei se vale a pena usar metodologias de trabalho documentalista, ou com idas à campo para observar se há algum resquício da firmeza-permanente em Perus e Cajamar.

No entanto, até o presente momento a metodologia de trabalho será a contextualização da luta dos Queixadas, seus concorrentes e aliados; a contextualização da situação política e social mais global e qual a estrutura de oportunidade política(EOP); e uma contextualização do interior do próprio movimento dos Queixadas. Com este estudo pretendo observar qual o ponto de partida da ação, o quanto a não-violência já era praticada

Antes disso precisarei compilar um conceito de não-violência com base no texto das lideranças dos próprios Queixadas, complementando com outras fontes relevantes.

Em um segundo momento passarei a uma análise processual com um foco mais objetivo. Ordenando os diversos eventos no tempo tentarei encontrar os elementos que indiquem a presença de um pensamento e de uma ação comprometidas com uma ética ou uma estratégia não-violenta, observarei também as mudanças da EOP e se elas podem ter condicionado ou reduzido as opções de ação e também discriminarei as práticas formativas promovidas pelo Sindicato e seus parceiros.

Em um terceiro momento passarei a uma análise dos valores das lideranças através da análise de suas trajetórias e de suas reflexões. Além disso vou mapear a construção da identidade dos Queixadas. O objetivo será sempre perceber como tais elementos influenciaram na formulação da firmeza-permanente, a não-violência dos Queixadas.

Título e Objetivos

Título

Os Queixadas e a firmeza-permanente: um estudo sobre o aprendizado da não-violência.

Objetivos

  1. Avaliar a extensão do aprendizado da não-violência pelos Queixadas e suas lideranças;
  2. Compor um repertório com as práticas que contribuíram para o ensino e o aprendizado da não-violência;
  3. Contextualizar tais práticas para encontrar os elementos exclusivos àquele momento histórico e àquela comunidade específica, para futuramente poder fazer um estudo comparativo com outras lutas e encontrar padrões que orientem o trabalho de outros movimentos sociais que se interessem por este tipo de luta.

Formulação das Hipóteses

A primeira hipótese é que a estrutura de oportunidades políticas contribuiu para a adoção de práticas não-violentas. Na década de 60, em meio à guerra fria, amplos setores da Igreja Católica rechaçavam o comunismo. Por conta disso a FNT buscava uma terceira via de ação, que se opusesse tanto à revolução violenta quanto à violência econômica do capitalismo, porém, tal escolha foi guiada pelos próprios valores das lideranças. Mário Carvalho de Jesus, o advogado, se formou na JUC, era militante de um movimento criado pelo Padre Lebret e nutria a crença na solidariedade e na doutrina social da igreja.

A segunda hipótese a ser verificada é que a não-violência foi uma opção da liderança que dissuadiu os operários a utilizarem outras estratégias.

A terceira hipótese é que houve um amadurecimento da prática não-violenta ao longo da mobilização, no iníciou havia um vínculo entre o discurso da doutrina social da igreja e as estratégias de luta jurídica e política e era buscado demonstrar aos operários que eles poderiam fazer greve para pressionar seu patrão, porém, conforme a estrutura de oportunidades políticas foi mudando, primeiro em 1962 com o governo voltando as costas para os Queixadas e os 1200 grevistas sendo demitidos e depois em 1964 com a ditadura, ações alternativas tais como jejuns e acampamentos passaram a ser utilizadas e em 1967 Hildegar Goss-Mayr, uma ativista internacional, demonstrou que a prática deles era não-violenta e as lideranças passaram a se reconhecer como tal e a refletir sobre o assunto, adotando o discurso não-violento frente ao discurso anterior, que após o início da ditadura passou a ser questionado pelos seus praticantes.

A quarta hipótese é que desde a década de 50 as lideranças adotaram uma postura de educar os operários, utilizando pequenas ações para demonstrar que uma prática era efetiva, ajudando a envolver mais pessoas na luta e conforme a luta se ampliava e a liderança se tornava mais respeitada, suas reflexões públicas sobre o porquê não usar a violência passaram a ter mais peso.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Delimitação do Problema

A pretensão desta pesquisa é investigar como ocorreu a aplicação da Firmeza Permanente na luta dos queixadas e se ela foi efetiva, dando uma especial atenção às estratégias de formação utilizadas pelas lideranças sindicais para difundir os valores e princípios da ação não-violenta.

Porém, não consegui delimitar o problema com apenas uma pergunta, tenho uma série de dúvidas que agrupei em dois pontos principais:

A primeira questão é sobre o aprendizado. Compreendendo o "ser não violento" em duas dimensões: a ética dos indivíduos/instituição e a estratégia de luta coletiva, qual a profundidade do aprendizado dos Queixadas sobre a não-violência?

A segunda questão condiz ao ensino/formação. Quais as práticas e estratégias sindicais que contribuíram para a formação dos operários? Elas foram influenciadas pela estrutura de oportunidades política? Pela bagagem e valores das lideranças e dos operários?

Com isto pretendo averiguar se o que ocorreu entre os Queixadas pode ser entendido como não-violência e caso sim, resgatar as práticas que contribuíram para a formação destes valores, sempre observando que no sindicato e na fábrica a educação não é um processo diferenciado tal como em uma escola e portanto pode estar integrado às práticas mais diversas.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Referencial Teórico

Primeiramente irei me basear em diversas fontes para delimitar o conceito de não-violência. A principal será o livro Firmeza Permanente do Secretariado Justiça e Não-Violência da Frente Nacional do Trabalho(FNT), grupo do qual o Sindicato de Perus fazia parte, e complementarei com reflexões encontradas na obra do filósofo francês Jean-Marie Muller, entre outros.

Para entender a história da mobilização analisarei os textos produzidos pelos Queixadas e pela FNT, a tese de doutorado de Élcio Siqueira na qual ele revisa a história do movimento, o livro de Silvia Manfredi sobre educação sindical no qual há um capítulo sobre os métodos pedagógicos da FNT com entrevistas realizadas pela autora em 1982 e o documentário de Rogério Corrêa com reconstituições de importantes cenas da greve de 1962 interpretadas pelos próprios Queixadas.

Pretendo avaliar se o aprendizado do conceito da não-violência foi resultado direto da mobilização e das estratégias de formação do sindicato, para tanto farei uso de algumas ferramentas teóricas da sociologia.

A não-violência pode ser vista em duas dimensões, uma mais restrita que utiliza a não-violência como uma estratégia de luta social e outra que toma a não-violência como um princípio de vida. Para fazer uma leitura da dimensão estretégica vou utilizar elementos da Teoria do Processo Político de Sidney Tarrow, principalmente o conceito de Estrutura de Oportunidades Políticas(EOP) que servirá para identificar ao longo do conflito os fatores conjunturais que favoreceram a adoção desta estratégia. O instrumental de Tarrow no entanto é mais útil para situações de confronto, para estudar a influência que o Sindicato sofreu das organizações parceiras nos periodos de "paz", lançarei mão do conceito de "redes de movimentos sociais" da Teoria dos Novos Movimentos Sociais, ainda estou reunindo os textos que vão me guiar, é provável que utilize Melucci e Touraine. Esta teoria tem também um vasto instrumental para trabalhar com a questão dos valores, que poderá me ajudar a analisar a segunda dimensão, além de um conceito de identidade, que pode ajudar a analisar a importância da identidade "Queixada" para a consolidação do movimento.

Por fim vou analisar a trajetória do Sindicato de Perus e de suas lideranças para identificar sua predisposição a este tipo de ação. Ainda estou indeciso de que referencial utilizar neste caso, é provável que utilize a obra de Norbert Elias e seu conceito de habitus, porém ainda estou aprofundando a leitura. Quanto ao histórico das lideranças e do sindicato, há um bom material na tese de Élcio Siqueira e caso não seja suficiente há o arquivo de Mário Carvalho de Jesus na biblioteca da UNICAMP.

Complementando os estudos sobre o aprendizado da não-violência, estudarei como ela foi ensinada aos operários ao longo da luta, para isso irei contar com a bibliografia sobre os queixadas já citada anteriormente, principalmente com o texto de Silvia Manfredi.


FRAGOSO, Antônio; BARBÉ, Domingos; CÂMARA, Hélder; et al. A Firmeza-Permanente: A força da não-violência. 2ª ed. São Paulo: Loyola-Vega, 1977.

MANFREDI, SILVIA MARIA. Educação sindical entre o conformismo e a crítica. São Paulo: Edições Loyola, 1986.

MCADAM, Doug; TARROW, Sidney; TILLY, Charles (1996). “Para Mapear o Confronto Político”. In: Lua Nova 76. São Paulo: CEDEC.

MULLER, Jean-Marie. O princípio da não-violência: Uma trajetória filosófica. 1st ed. São Paulo: Palas Athena, 2007. ISBN 978-85-60804-02-3.

SIQUEIRA, ELCIO. Melhores que o patrão : a luta pela cogestão operaria na Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus (1958-1963). Campinas: Universidade Estadual de Campinas . Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, 2009. Tese (doutorado). Disponível em: . Acesso em: 17 nov. 2011.

Filmes
  1. Rogério Corrêa, Os queixadas, DVD, Documentário, 1978.

domingo, 27 de novembro de 2011

Justificativa

Tema

A pesquisa investigará a Firmeza Permanente, forma de luta não violenta elaborada por setores progressistas da Igreja Católica durante os anos 60/70, seu desenvolvimento e sua aplicação na luta dos Queixadas, os trabalhadores da fábrica de cimento portland de Perus que se mantiveram mobilizados desde os fins dos anos 50 até meados dos anos 70.

Justificativa

Porque o meu interesse no assunto?

Aos 18 anos, ao começar a militar em um movimento social, comecei a participar de atividades de reflexão e campanhas para o grande público nas quais fui apresentado a uma outra forma de reagir diante dos problemas cotidianos e sociais: a não violência ativa.

Nesse processo pude perceber que a resposta violenta, embora seja naturalizada, não é natural, mas sim cultural, um padrão de comportamento codificado por nossa sociedade e que de tão arraigado acaba se tornando mecânico e a resposta mais lógica a uma situação qualquer. A íntima culpa por não ser aquilo que os outros esperam, o desejo secreto de espancar alguém que nos fez mal, a palavra maliciosamente dita para machucar o outro, a agressão física, o preconceito, as guerras, são diversas facetas de um mesmo fenômeno, o mau trato.

Embora intelectualmente simples de entender, a não violência, por confrontar valores tão enraizados, é extremamente complicada de ser praticada, pois requer uma atitude sempre humilde para reconhecer os erros e um olhar sempre atento, mas nas situações cotidianas, quando estamos cansados e desatentos, a primeira atitude que aparece em nosso repertório é a violenta.

Tomei gosto pela temática e comecei a pesquisar sobre o assunto e há alguns anos, preparando um pequeno painel para o dia 2 de outubro, o dia internacional da não violência, fui pesquisar casos de não violência ao redor do mundo. Penei um pouco para achar exemplos no Brasil, embora haja desde o tempo da abolição pessoas pessoas que lutaram sem usar a violência, bem poucos grupos ou pessoas se auto declararam não violentas durante lutas sociais. Um deles no entanto me chamou muito a atenção, uma greve em Perus que durou 7 anos, adentrando a ditadura, sofrendo todo tipo de perseguição, mas mesmo assim manteve-se firme, conseguindo a simpatia da opinião pública e uma vitória parcial ao final. Os grevistas eram conhecidos como os Queixadas e eram assessorados juridicamente por Mário Carvalho de Jesus, um advogado católico, que fez um estágio na França com os grupos do Padre Lebret e ao chegar no Brasil passou a atuar em sindicatos, se utilizando da metodologia da Não Violência. Porém, como a não violência era vista pelos trabalhadores como sinônimo de covardia, o termo foi substituído por Firmeza Permanente.

Mas, o que isso tem a ver com a pedagogia?

Realmente, pode parecer estranho um trabalho de pedagogia se debruçar sobre um movimento operário da indústria cimenteira da periférica região de Perus. A estranheza pode aumentar ainda mais ao se considerar que será estudado o remoto período delimitado entre o fim da década de 50 e meados dos anos 70.

O estranhamento existe com razão, primeiro porque este é um tipo de objeto que interessaria mais comunmente a sociólogos e historiadores e em segundo lugar, a formação de trabalhadores em sindicatos não está no currículo da pedagogia, adultos aparecem, quando muito, nas optativas sobre EJA.

Para entender a escolha de um objeto de estudo aparentemente tão inusitado, é necessário recordar que a educação não se restringe à escola. Onde houver situação de ensino e aprendizado, ainda que não tão diferenciada de outras práticas sociais, como em uma sala de aula, a pedagogia poderá ser de grande valia. E o inverso também é válido: o desenvolvimento do conhecimento pedagógico poderá se valer de diversas experiências de ensino e aprendizado, ainda que não-escolares.

Seguindo esta trilha, o objetivo de estudar a mobilização dos queixadas, é identificar quais as práticas de formação dos trabalhadores foram utilizadas e se elas podem ser reproduzidas em outros contextos.

E qual a aplicação de tal estudo?

Embora a grande greve de 1962-69 não tenha sido planejada, pelo que lemos nos relatos dos líderes do sindicato, tampouco a mobilização dos trabalhadores de Perus foi espontânea, desde a década de 50 houve uma preocupação em ajudar o trabalhador a perder o medo de se manifestar contra as injustiças cometidas pelo Mau Patrão. E de pouco em pouco os trabalhadores foram fazendo pequenas greves, depois uma campanha para conseguir a desapropriação da fábrica, transferido seu controle para os próprios trabalhadores.

E no período posterior à grande greve, mesmo com mais da metade dos trabalhadores tendo perdido a causa, os queixadas se mantiveram mobilizados por mais alguns anos até conseguirem receber por todos os anos parados.

O estudo de uma mobilização como esta, que durou mais de 20 anos, pode ser o cerne de uma pesquisa mais ampla sobre o emprego de metodologias de ação não violenta em movimentos sociais.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Retorno da professora de metodologia

Ontem enviei um email para a professora do curso de metodologia de pesquisa com o meu esboço, ela nos orientou a construir contruir o projeto:

Sua resposta foi:

"a estrutura do projeto é aquela que passei a vcs e expliquei em sala, é
importante que vcs respeitem aquele modelo. Demanda tema, justificativa,
formulação do problema, hipótese, metodologia, objetivos, cronograma e
outros itens. Mantenha essa estrutura. Faça o projeto fiel ao estágio em
que vc se encontra. Se há muitas perguntas é por que vc ainda não fechou,
não chegou a um objeto específico e nesse caso, deixe isso claro."

Com esta dica em mãos, o próximo passo é expandir o que está rascunhado, deixando claro que estou em uma fase inicial e a pergunta que norteará a pesquisa ainda não está bem lapidada.

Vou reler as notas de aula, mas creio também que a hipótese é facultativa em trabalhos que não envolvam análise quantitativa.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Rascunho do projeto da Iniciação

Compreendendo a mobilização não-violenta na luta dos queixadas

Objeto de estudo : A aplicação da Firmeza Permanente na greve dos queixadas.
Interesse : Compreender o processo de formação para a luta não violenta.

A greve dos queixadas, embora pouco lembrada, foi uma luta sindical que durou mais de uma década e conseguiu importantes vitórias sindicais através de estratégias não-violentas. João Breno Pinto, o presidente do Sindicato das Industrias de Cimento Portland de Perus e Mário Carvalho de Jesus, o assessor jurídico, escreveram textos que servirão de ponto de partida para as investigações deste trabalho. Tais textos foram publicados no livro “A Firmeza Permanente : a força da não violência”(ARNS, 1977), e apresentam um breve histórico da greve, refletindo sobre como a Firmeza Permanente, a forma como a não violência era chamada por uma ala ativista da Igreja Católica, foi importante para que a mobilização se mantivesse durante 11 anos.
A pretensão desta pesquisa é investigar como ocorreu a aplicação da Firmeza Permanente nesta luta, dando uma especial atenção às estratégias de formação utilizadas pelas lideranças sindicais para difundir os valores e princípios da ação não-violenta.
Desta forma, as perguntas motrizes do estudo serão:

A metodologia de luta dos queixadas, indiferente ao discurso de suas lideranças, foi realmente não violenta?

Compreendendo o "ser não violento" em duas dimensões: a ética dos indivíduos/instituição e a estratégia de luta coletiva.

Quais foram as estratégias utilizadas pelos líderes sindicais para realizar a formação dos operários?

Esta formação se enraizou ao repertório dos operários? Ou foi uma estratégia pontual.

Qual era o contexto sócio-político da mobilização? Este predispôs os operários e eles já estavam de certa forma preparados para esta formação, ou o trabalho do sindicato começou do zero?

Talvez seja necessário entender a questão do aprendizado de adultos em contextos não escolares, comunitários ou não-formais, principalmente em contextos de luta por direitos coletivos.

ARNS, Paulo Evaristo et al. A Firmeza Permanente: a força da não violência, São Paulo, Loyola/ Vega, 1977.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Hemeroteca Sindical Brasileira

Olhando no blog "os queixadas" encontrei uma referência a esta hemeroteca, talvez lá encontre os panfletos e cadernos produzidos pela FNT.

O saite do Oboré explica que a instituição hoje se chama Instituto de Pesquisa, Formação e Difusão em Políticas Públicas e Sociais e seu acervo foi integrado ao CEDEM/UNESP. O instituto é na Rua Rego Freitas, 454, cj 82, na Vila Buarque.

Quando tiver um banco de referências bibliográficas mais completo, irei visitar tanto esta hemeroteca, quanto a biblioteca de teses da PUC-SP.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Novas aquisições: Educação Sindical e Tese sobre os Queixadas

Com as parcas informações que obtive no Google Books, verifiquei que o livro de Silvia Manfredi seria muito relevante para a minha pesquisa. Na Estante Virtual encontrei uma cópia bem em conta e como o sebo era na República, ao invés de pedir pelo correio, fui buscá-lo pessoalmente hoje.

Há dois capítulos que dizem respeito diretamente à minha pesquisa, o primeiro deles situa os diversos movimentos operários católicos, traçando um cenário mais amplo do que os textos produzidos pelos ativistas da JOC e da FNL, até ler este capítulo por exemplo, não sabia da existência dos sindicatos católicos de direita, isto talvez ajude a entender melhor o contexto da FNT.

O outro capítulo é exclusivamente sobre os métodos pedagógicos da FNT, lerei nos próximos dias.

No texto há várias notas de rodapé com referências relevantes para a minha pesquisa, uma delas cita uma série de cadernos editados pela própria FNT em 1980 em comemoração aos seus 20 anos. Uma universidade de Plimouth possui esta coleção microfilmada, alimentei minhas referências com os 5 cadernos. Após isso procurei referências a estes cadernos em bibliografias de trabalhos acadêmicos publicados na internet. Encontrei poucos links, todos eles de livros e teses sobre sindicalismo.

Um deles é a tese de doutorado de Elcio Siqueira, historiador que investiga a greve dos queixadas.

Eu já tinha descarregado sua tese de mestrado na qual achei informações muito relevantes sobre a presença não apenas de católicos, mas também de evangélicos, as relações entre queixadas e pelegos e a mudança das estruturas de oportunidade políticas, no início o governo apoiava os trabalhadores na tentativa de desapropriar a fábrica e colocá-la nas mãos dos operários, mas em 1962 mudou de posição e mandou a polícia.

Já a tese de doutorado não consegui ler inteira ainda, pois tem mais de 300 páginas, mas no pouco que li encontrei algumas entrevistas com queixadas e pelegos que traçam um cenário de mágoas e cisões familiares decorrentes da volta ao trabalho por parte de alguns e continuidade da paralisação por outros. Tal fato me fez fez pensar que a firmeza permanente talvez se restrinja a uma estratégia de luta coletiva sem constituir-se como uma ética não-violenta individual ou familiar. Em sua tese Elcio traz também algumas páginas sobre os principais personagens da peleja, o que pode me fornecer subsídios caso eu queira me embrenhar pelo estudo da trajetória das lideranças do movimento. Além disso, se eu quiser usar o conceito de "Estrutura de Oportunidade Política" de Tarrow, a contextualização do Mau Patrão me ajuda, pois demonstra que ele era mau visto por boa parte da sociedade, mesmo jornalistas ou militares, o que se constituiu como uma Estrutura de Oportunidades Políticas favorável aos queixadas.

Embora estas fontes secundárias tragam um grande aporte à minha pesquisa, em nenhum dos que li até agora há menção à não-violência, ao contrário dos textos primários que sempre ressaltam a Firmeza Permanente como diferencial da luta dos queixadas.

MANFREDI, SILVIA MARIA. Educação sindical entre o conformismo e a crítica. São Paulo: Edições Loyola, 1986.

SIQUEIRA, ELCIO. Melhores que o patrão : a luta pela cogestão operaria na Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus (1958-1963). Campinas: Universidade Estadual de Campinas . Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, 2009. Tese (doutorado). Disponível em: . Acesso em: 17 nov. 2011.

FRENTE NACIONAL DO TRABALHO. Fundação da FNT. São Paulo: [s.n.], 1980.

JOC uma utopia operária

MURARO, VALMIR FRANCISCO. Juventude Operária Católica. 1ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1985. ISBN 8511020977.


Muraro, neste pequeno estudo sobre a juventude católica no movimento operário brasileiro, trabalha com a hipótese de que através da metodologia "ver, julgar e agir" os militantes da JOC brasileira se envolveram na problemática operária, ajudando a construir uma aproximação da igreja católica com os menos favorecidos, em uma época que a igreja estava voltada apenas para as elites, e desta maneira serviu de modelo para as pastorais que surgiriam depois.

O livro está dividido em uma introdução, 5 capítulos e duas páginas com indicações para leitura.

Na introdução o autor apresenta a sua motivação de estudar a JOC, para ambientar o estudo do catolicismo no Brasil em sua relação com a temática social e depreender qual foi o valor da JOC, foi mais uma utopia operária? O autor apresenta um resumo da análise histórica que irá desenvolver no resto da obra e resume os questionamentos a que chegou, o jocismo se ajustou aos momentos políticos da vida nacional, o jocismo influenciou as outras manifestações católicas de seu tempo ou ainda se ele foi um momento de ruptura do catolicismo.

No primeiro capítulo intitulado "A vida e o sonho: Uma utopia operária brasileira" o autor descreve a situação decepcionante dos operários brasileiros serviu de mola para impulsionar a JOC como uma força que na visão de seus membros poderia ser uma esperança dentro das fendas da transformação econômica brasileira.

O jocismo se deslocou de um momento onde propunha uma salvação puramente evangélica e se transformou numa verdadeira utopia, no sentido de uma força capaz de provocar mudanças, tal passagem partiu de fatores subjetivos e se alimentou de elementos objetivos com o qual se confrontava na ação.

Com a industrialização do período Vargas havia um "sonho" operário de que dias melhores eram possíveis e neste momento a JOC surgiu para formar um ambiente saudável dentro dos locais de trabalho, com objetivos claramente espirituais, posteriormente,os seus ideais foram se aproximando de ideais humanitários e liberais, reinvindicando uma sociedade menos cruel e exploratória junto aos governantes, influenciando na instalação de mecanismos reguladores. Após 1964 abraçou uma tendência na qual a utopia religiosa se fundiria em um programa político que a realizasse, reformando a política de forma que esta girasse em torno de uma nova vida, eliminando o sistema sócio-econômico em vigor. Com a ditadura os jocistas foram perseguidos e a hierarquia eclesiástica, em sua maioria conservadora, se calou, as ideias jocistas não foram debeladas, o autor fala de um excedente utópico que impulsionou um novo ciclo imaginativo que possibilitou que a Igreja Católica abarcasse novos projetos utópicos, tais como a Pastoral Operária.

No segundo capítulo o autor traça um contexto geral das JOC, ela foi fundada pelo belga Léon Joseph Cardjin, que percebendo que a maioria de seus amigos de infância ao se tornarem operários se afastavam da igreja, já que esta tinha uma pastoral mais voltada para as elites econômicas, resolveu organizar um movimento religioso que reconquistasse os jovens trabalhadores.

Cardjin rejeitava toda forma de paternalismo e considerava importante que os operários se conscientizassem que somente através de sua ação resolveriam seus problemas, assim, a igreja ajudaria na organização, mas os próprios operários seriam os ativistas, partindo da análise da situação, o estudo das melhores atitudes a serem tomadas e de uma ação baseada nestas reflexões: ver, julgar e agir.

Após algumas primeiras experiências Cardjin precisou de alguns anos para conseguir que o clero conservador belga permitisse a criação da JOC como um movimento autônomo em 1923, com a intervenção papal, que via na JOC uma forma de concretizar a tendência da Rerum Novarum de 1891. E na década de 30, com os sucessos obtidos na Europa, o Vaticano ajudou na expansão do Movimento.

No Brasil a Ação Católica Brasileira criou seus primeiros grupos especializados em juventude nos primeiros anos da década de 30 e o movimento foi oficializado em 1948.

Em seus primeiros anos a JOC objetivava transformar a situação humilhante dos operários, convertendo o espaço das empresas em um lugar mais sadio, visando assim a redenção dos trabalhadores do mundo inteiro. Os membros eram formados e tinha limite de idade na participação, aprendiam a utilizar o inquérito jocista, descobrir os problemas e agir para minimizá-los.A JOC tinha uma técnica que se ocupava dos problemas concretos "ver, julgar e agir" o método pedagógico jocista, junto com o método de conquista, os três "M", militante, meio e massa o diferenciava dos outros movimentos leigos da época. E tinha uma mística que se ocupava das questões transcedentais, desde 1933 o Vaticano orientava que os movimentos leigos tivessem uma mística própria que no caso da JOC tinha o objetivo de recristianizar os ambientes de trabalho. Os jovens eram atraídos por meio de atividades recreativas, sociais e culturais e participavam de atividades místicas.


No terceiro capítulo, "A JOC e o desafio brasileiro", o autor conta como a Ação Católica surgiu, como uma forma de atender os anseios do Vaticano de transformar o Brasil em uma nação católica e ao mesmo tempo combater os movimentos emergentes que buscavam desestabilizar a "ordem", vários movimentos surgiram daí e a JOC desde seu início tinha como princípio a harmonia com os demais grupos. A JOC se organizava em secção nacional e a secção local, que era a base de toda a atividade e onde tinha a maior carga de formação. Todo militante deveria ser capaz de ser um propagandistas e reunir seus colegas de trabalho para recreação ou discussões e quando o grupo se consolidava estava formada uma nova secção. Tais secções eram aconselhadas a ter um círculo de estudos semanal ou quinzenal com o máximo de 15 pessoas, o conjunto de secções de uma diocese formava uma federação jocista com 3 dirigentes e 1 assistente eclesiástico, os dirigentes eram representantes no conselho nacional que traçava o Plano Nacional e como o Brasil era muito grande haviam as confederações, âmbito de reunião das federações de uma mesma região. Em 1956 a JOC já contava com 424 secções. Entre as atividades mais importantes da época estavam a economia e a preparação para o casamento dos jovens.

A autor descreve ainda 3 grandes fases do jocismo no Brasil:
1948-1958 - fase de divulgação e recrutamento, na qual os mecanismos descritos serviram para levar a JOC para todo o país;
1959-1964 - fase de "esperança", na qual a JOC refletia a agitação social brasileira do período e os jocistas passaram a se envolver com os problemas do período, com as atenções se ampliando da vida religiosa, também para a vida social, política e econômica, alimentando a esperança para dias melhores para os trabalhadores, em 1961 a JOC advertia se não houvessem reformas de base haveria uma revolução no Brasil, inclusive uma revolução cristã.
1965-1970 - fase da "ruptura" com o Estado e desarticulação, a repressão vinda com o golpe levou os militantes a refletirem sobre a situação e chegarem a uma nova visão social, com aproximação a grupos de esquerda na luta pelos direitos dos trabalhadores.

No quarto capítulo Muraro fala sobre "O Projeto social do jocismo no Brasil", durante os primeiros anos da década de 60 a JOC se colocava como o arauto dos problemas operários, criticando o capitalismo desenfreado instalado no Brasil e os governantes também eram apontados como responsáveis pela miséria dos trabalhadores, neste período a JOC cresceu numericamente e passou a ser influenciada pela esquerda católica(Juventude Universitária Católica e Ação Popular). Optando por uma ação mais social e menos sacralizada os setores mais conservadores da igreja começaram a se afastar dela. Com o golpe, a ruptura, apenas os bispos de Recife e São Paulo apoiavam a JOC e o movimento começou a sofrer perseguições e seus membros foram presos, a igreja só saiu em seu apoio após o reitor da PUC ser preso, o que mudou a conjuntura no alto clero e por consequência a atitude da igreja.

No quinto capítulo sobre "o significado do jocismo brasileiro", o autor conclui que o movimento ofereceu a igreja contribuições significativas, na medida que ajudou a igreja a reavaliar o significado do "povo" e de suas atitudes pastorais, tendo grande influência no desenvolvimento da igreja popular no Brasil, sendo que as primeiras CEBs no Maranhão tinham entre seus integrantes antigos jocistas.

sábado, 12 de novembro de 2011

Porquê os queixadas ?

Há algum tempo ouvia falar sobre a greve dos queixadas, a primeira vez foi quando vi o espetáculo "os queixadinhas" do TUOV. A música até hoje não sai da minha cabeça:

"Tem um porco do mato,
Um porco selvagem,
Que quando anda em bando vira turma da pesada,
Seu nome é: Queixada!
Seu nome é: Queixada!

Teve uma greve na cidade de Perus,
Onde os operários sabedô de seus direitos,
Assinaram em cruz.
Foi briga feia, durou dezena e meia
Uma briga danada,
E os operários chamavam queixadas."


Há uns dois ou três anos atrás, durante as comemorações do 2 de outubro, comecei uma pesquisa para um pequeno dossiê sobre exemplos concretos de não violência, cultura de paz e direitos humanos no Brasil, geralmente quando falamos em não violência chove gente dizendo que este tipo de coisa funciona na Índia mas não aqui. Reunir exemplos brasileiros seria uma forma de demonstrar como tal argumento é falacioso.

Não tive tanto êxito para estruturar o dossiê, embora na pesquisa tenha encontrado muitos exemplos interessantes pelo país a fora, desde o grupo de ativistas que estruturou o dossiê "Brasil Nunca Mais" até homens como Luiz Gama, que usaram estratégias peculiaríssimas na luta contra a escravidão. Um dos casos que mais pesquisei foi a greve de Perus, ou greve dos queixadas. Ela teve um cunho não violento durante seus mais de 7 anos de duração.

O sindicato dos cimenteiros de Perus foi assessorado desde os fins da década de 50 pelo advogado Mário Carvalho de Jesus(MCJ), formado dentro de grupos de militância católica e muito inspirado pelo Padre Lebret e por Gandhi.

Em seus escritos MCJ comenta que na década de 50 os operários não acreditavam em greve de maneira alguma, levou uns 5 anos trabalhando com eles até que houve uma pequena greve no começo da década de 60 que teve algum êxito, eles começaram então a pleitear junto ao governo que a fábrica fosse desapropriada por conta de suas dívidas e passada para os empregados. Esta proposta parecia muito factível e isso talvez tenha assustado o governo, que mudou de lado e na grande greve de 62 o governo virou as costas para os grevistas e lhes mandou a polícia em cima. O mau patrão, Abdala, político influente, demitiu 1200 funcionários. Como as demissões eram ilegais, pois os funcionários estavam em greve, eles mantiveram a greve, infelizmente boa parte dos empregados perderam nos tribunais quando houve o golpe militar. Um dos juízes quando sofreu aposentadoria compulsória se tornou advogado do grupo Abdala inclusive. Em 1969, 7 anos após o início da causa, a justiça deu ganho de causa para cerca de metade dos grevistas. Ao longo destes 7 anos de luta os queixadas mantiveram uma luta baseada na firmeza permanente, este terma substituia a não violência, pois para os operários não violência soava como covardia. Este desenrolar da greve é bem interessante, mas não é meu foco.

Meu objetivo é entender a questão da educação de adultos para uma luta não violenta no contexto de um conflito social. Gostaria de investigar este período que vai desde o início da atuação de MCJ no sindicato de Perus na década de 50 e depois no decorrer da greve até os anos 70, quando a decisão judicial de que o mau pratão precisa pagar os dias parados dos grevistas leva à intervenção na fábrica.

Software para fichamento: Zotero

Estava fazendo o fichamento na mão, porém quando passei a examinar documentos digitais passei a fazer uma lista em arquivo de texto para depois passar para o papel, ou seja, o meu fichamento estava uma zona.

Passei a procurar por algum programa legal para fichamentos e que rode no linux, pois me recuso a voltar para o windows com todos os seus vírus. Tentei um ou outro que rodava stand alone, mas achei pouco prático. Por fim, uma pesquisa no google me levou ao site do MIT onde encontrei um quadro comparativo entre três softwares para fichamento e havia muitos elogios à facilidade de uso de um plugin do firefox chamado Zotero.

Instalei-o em minha máquina para experimentar, gostei e estou terminando de inserir todas as minhas entradas bibliográficas nele.

Ele permite sincronizar minhas atividades com a internet e depois baixar em outros computadores, o que é uma mão na roda.

Em 2005 quando estava fazendo minha primeira monografia tive um HD queimado e perdi boa parte das referências, pois fazia uns 2 meses que não tirava backup, sincronizar com um servidor na nuvem é a melhor forma de evitar este tipo de catástrofe.

Ele permite referenciar uma entrada em outra, criar citações, tags, etc. E o melhor de tudo, se eu clico em uma entrada e a arrasto para um editor, ele monta a referência bibliográfica para mim. O meu único trabalho é configurar o estilo de referência que eu desejo. Há vários padrões cadastrados, porém não tem o ABNT, para instalá-lo pode usar o seguinte passo-a-passo:

http://meiradarocha.jor.br/news/2010/09/03/estilo-abnt-para-o-zotero/

Vejam exemplos com um padrão de estilo americano, eu apenas cliquei no ítem e arrastei para a janela de edição do post do blog e as referências vieram formatadas tal como seguem.

COUTO, ARI MARCELO MACEDO. Greve na Cobrasma: uma história de luta e resistência. São Paulo: Annablume, 2003. ISBN 85-7419-353-4.
ECO, UMBERTO. Como se faz uma tese. 22ª ed. São Paulo: Perspectiva, 2009. ISBN 978-85-273-0079-7.
FRAGOSO, ANTÔNIO et al. A Firmeza-Permanente. 2ª ed. São Paulo: Loyola-Vega, 1977.

Como se faz uma tese

O professor Cléber me indicou um livro do Umberto Eco chamado "Como se faz uma tese" para que eu me orientasse mais ou menos sobre como escrever um texto dissertativo voltado para as ciências humanas.

Li boa parte do livro em PDF, gostei bastante e agora adquiri uma cópia física do livro através de troca.

A mais preciosa dica que o livro me trouxe é a humildade.

A primeira vez que me pus a escrever uma monografia queria abraçar o mundo, queria que meu texto fosse realmente significativo, etc. Ao final de dois anos não havia escrito nada e precisei fazer um trabalho medíocre para não jubilar.

Saber que o ofício do pesquisador é o resultado de um acúmulo e quando estamos começando precisamos ser humildes para podermos fazer um trabalho honesto é fundamental.

Outra questão interessante que ele aborda de forma bem clara é como construir um conjunto de referências bibliográficas. Tentei no início fazer em fichas de papel, tal que ele fazia, porém, hoje há o computador para facilitar este tipo de coisa. Achei um programinha bacana que substitui a contento o bloco de papel.

Enfim, há muitos outros pontos interessantes no livro, ele descreve os diversos tipos de dissertação possíveis, os cuidados que devemos ter ao escolher o tema para que ele não fique abrangente demais, como fazer um trabalho de pesquisa minucioso, etc. Quem tiver procurando um bom livro de metodologia na área de ciências humanas eu recomendo este:

Umberto Eco, Como se faz uma tese, 22ª ed., Estudos 85 (São Paulo: Perspectiva, 2009).