quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Metodologia

Ainda estou decidindo qual metodologia usar. Como estou na fase de revisão bibliográfica tenho encontrado referências sobre alguns panfletos e materiais produzidos pelo Sindicato na época da greve e a teses sobre
movimentos sociais formados pelos descendentes dos Queixadas que eram atuantes nos anos 80 e 90 e 2000 em Perus.

Quando começar a visitar as bibliotecas e puder ler estes documentos e teses, saberei se vale a pena usar metodologias de trabalho documentalista, ou com idas à campo para observar se há algum resquício da firmeza-permanente em Perus e Cajamar.

No entanto, até o presente momento a metodologia de trabalho será a contextualização da luta dos Queixadas, seus concorrentes e aliados; a contextualização da situação política e social mais global e qual a estrutura de oportunidade política(EOP); e uma contextualização do interior do próprio movimento dos Queixadas. Com este estudo pretendo observar qual o ponto de partida da ação, o quanto a não-violência já era praticada

Antes disso precisarei compilar um conceito de não-violência com base no texto das lideranças dos próprios Queixadas, complementando com outras fontes relevantes.

Em um segundo momento passarei a uma análise processual com um foco mais objetivo. Ordenando os diversos eventos no tempo tentarei encontrar os elementos que indiquem a presença de um pensamento e de uma ação comprometidas com uma ética ou uma estratégia não-violenta, observarei também as mudanças da EOP e se elas podem ter condicionado ou reduzido as opções de ação e também discriminarei as práticas formativas promovidas pelo Sindicato e seus parceiros.

Em um terceiro momento passarei a uma análise dos valores das lideranças através da análise de suas trajetórias e de suas reflexões. Além disso vou mapear a construção da identidade dos Queixadas. O objetivo será sempre perceber como tais elementos influenciaram na formulação da firmeza-permanente, a não-violência dos Queixadas.

Título e Objetivos

Título

Os Queixadas e a firmeza-permanente: um estudo sobre o aprendizado da não-violência.

Objetivos

  1. Avaliar a extensão do aprendizado da não-violência pelos Queixadas e suas lideranças;
  2. Compor um repertório com as práticas que contribuíram para o ensino e o aprendizado da não-violência;
  3. Contextualizar tais práticas para encontrar os elementos exclusivos àquele momento histórico e àquela comunidade específica, para futuramente poder fazer um estudo comparativo com outras lutas e encontrar padrões que orientem o trabalho de outros movimentos sociais que se interessem por este tipo de luta.

Formulação das Hipóteses

A primeira hipótese é que a estrutura de oportunidades políticas contribuiu para a adoção de práticas não-violentas. Na década de 60, em meio à guerra fria, amplos setores da Igreja Católica rechaçavam o comunismo. Por conta disso a FNT buscava uma terceira via de ação, que se opusesse tanto à revolução violenta quanto à violência econômica do capitalismo, porém, tal escolha foi guiada pelos próprios valores das lideranças. Mário Carvalho de Jesus, o advogado, se formou na JUC, era militante de um movimento criado pelo Padre Lebret e nutria a crença na solidariedade e na doutrina social da igreja.

A segunda hipótese a ser verificada é que a não-violência foi uma opção da liderança que dissuadiu os operários a utilizarem outras estratégias.

A terceira hipótese é que houve um amadurecimento da prática não-violenta ao longo da mobilização, no iníciou havia um vínculo entre o discurso da doutrina social da igreja e as estratégias de luta jurídica e política e era buscado demonstrar aos operários que eles poderiam fazer greve para pressionar seu patrão, porém, conforme a estrutura de oportunidades políticas foi mudando, primeiro em 1962 com o governo voltando as costas para os Queixadas e os 1200 grevistas sendo demitidos e depois em 1964 com a ditadura, ações alternativas tais como jejuns e acampamentos passaram a ser utilizadas e em 1967 Hildegar Goss-Mayr, uma ativista internacional, demonstrou que a prática deles era não-violenta e as lideranças passaram a se reconhecer como tal e a refletir sobre o assunto, adotando o discurso não-violento frente ao discurso anterior, que após o início da ditadura passou a ser questionado pelos seus praticantes.

A quarta hipótese é que desde a década de 50 as lideranças adotaram uma postura de educar os operários, utilizando pequenas ações para demonstrar que uma prática era efetiva, ajudando a envolver mais pessoas na luta e conforme a luta se ampliava e a liderança se tornava mais respeitada, suas reflexões públicas sobre o porquê não usar a violência passaram a ter mais peso.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Delimitação do Problema

A pretensão desta pesquisa é investigar como ocorreu a aplicação da Firmeza Permanente na luta dos queixadas e se ela foi efetiva, dando uma especial atenção às estratégias de formação utilizadas pelas lideranças sindicais para difundir os valores e princípios da ação não-violenta.

Porém, não consegui delimitar o problema com apenas uma pergunta, tenho uma série de dúvidas que agrupei em dois pontos principais:

A primeira questão é sobre o aprendizado. Compreendendo o "ser não violento" em duas dimensões: a ética dos indivíduos/instituição e a estratégia de luta coletiva, qual a profundidade do aprendizado dos Queixadas sobre a não-violência?

A segunda questão condiz ao ensino/formação. Quais as práticas e estratégias sindicais que contribuíram para a formação dos operários? Elas foram influenciadas pela estrutura de oportunidades política? Pela bagagem e valores das lideranças e dos operários?

Com isto pretendo averiguar se o que ocorreu entre os Queixadas pode ser entendido como não-violência e caso sim, resgatar as práticas que contribuíram para a formação destes valores, sempre observando que no sindicato e na fábrica a educação não é um processo diferenciado tal como em uma escola e portanto pode estar integrado às práticas mais diversas.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Referencial Teórico

Primeiramente irei me basear em diversas fontes para delimitar o conceito de não-violência. A principal será o livro Firmeza Permanente do Secretariado Justiça e Não-Violência da Frente Nacional do Trabalho(FNT), grupo do qual o Sindicato de Perus fazia parte, e complementarei com reflexões encontradas na obra do filósofo francês Jean-Marie Muller, entre outros.

Para entender a história da mobilização analisarei os textos produzidos pelos Queixadas e pela FNT, a tese de doutorado de Élcio Siqueira na qual ele revisa a história do movimento, o livro de Silvia Manfredi sobre educação sindical no qual há um capítulo sobre os métodos pedagógicos da FNT com entrevistas realizadas pela autora em 1982 e o documentário de Rogério Corrêa com reconstituições de importantes cenas da greve de 1962 interpretadas pelos próprios Queixadas.

Pretendo avaliar se o aprendizado do conceito da não-violência foi resultado direto da mobilização e das estratégias de formação do sindicato, para tanto farei uso de algumas ferramentas teóricas da sociologia.

A não-violência pode ser vista em duas dimensões, uma mais restrita que utiliza a não-violência como uma estratégia de luta social e outra que toma a não-violência como um princípio de vida. Para fazer uma leitura da dimensão estretégica vou utilizar elementos da Teoria do Processo Político de Sidney Tarrow, principalmente o conceito de Estrutura de Oportunidades Políticas(EOP) que servirá para identificar ao longo do conflito os fatores conjunturais que favoreceram a adoção desta estratégia. O instrumental de Tarrow no entanto é mais útil para situações de confronto, para estudar a influência que o Sindicato sofreu das organizações parceiras nos periodos de "paz", lançarei mão do conceito de "redes de movimentos sociais" da Teoria dos Novos Movimentos Sociais, ainda estou reunindo os textos que vão me guiar, é provável que utilize Melucci e Touraine. Esta teoria tem também um vasto instrumental para trabalhar com a questão dos valores, que poderá me ajudar a analisar a segunda dimensão, além de um conceito de identidade, que pode ajudar a analisar a importância da identidade "Queixada" para a consolidação do movimento.

Por fim vou analisar a trajetória do Sindicato de Perus e de suas lideranças para identificar sua predisposição a este tipo de ação. Ainda estou indeciso de que referencial utilizar neste caso, é provável que utilize a obra de Norbert Elias e seu conceito de habitus, porém ainda estou aprofundando a leitura. Quanto ao histórico das lideranças e do sindicato, há um bom material na tese de Élcio Siqueira e caso não seja suficiente há o arquivo de Mário Carvalho de Jesus na biblioteca da UNICAMP.

Complementando os estudos sobre o aprendizado da não-violência, estudarei como ela foi ensinada aos operários ao longo da luta, para isso irei contar com a bibliografia sobre os queixadas já citada anteriormente, principalmente com o texto de Silvia Manfredi.


FRAGOSO, Antônio; BARBÉ, Domingos; CÂMARA, Hélder; et al. A Firmeza-Permanente: A força da não-violência. 2ª ed. São Paulo: Loyola-Vega, 1977.

MANFREDI, SILVIA MARIA. Educação sindical entre o conformismo e a crítica. São Paulo: Edições Loyola, 1986.

MCADAM, Doug; TARROW, Sidney; TILLY, Charles (1996). “Para Mapear o Confronto Político”. In: Lua Nova 76. São Paulo: CEDEC.

MULLER, Jean-Marie. O princípio da não-violência: Uma trajetória filosófica. 1st ed. São Paulo: Palas Athena, 2007. ISBN 978-85-60804-02-3.

SIQUEIRA, ELCIO. Melhores que o patrão : a luta pela cogestão operaria na Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus (1958-1963). Campinas: Universidade Estadual de Campinas . Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, 2009. Tese (doutorado). Disponível em: . Acesso em: 17 nov. 2011.

Filmes
  1. Rogério Corrêa, Os queixadas, DVD, Documentário, 1978.